DICAS PROFISSIONAIS - RECONHECIMENTO DE DIPLOMAS, ETC


 
INTRODUÇÃO

No Canadá, vale a especificidade, conhecimento e experiência em uma determinada área de trabalho, a melhor definição do mercado de trabalho canadense foi a que eu ouvi de um experiente consultor em Vancouver: “O empregador tem um problema;  se sabes resolvê-lo, ele te dá o emprego. Isso é o que vale, aspectos pessoais não tem tanto peso”.

Parece meio obvio, mas.... se compararmos com a realidade de trabalho no Brasil, onde as empresas contratam Engenheiros apenas para fazer o trabalho de pagar notas fiscais (e assinam a carteira da pessoa como engenheiro !), vemos que nao é  bem assim...

Continuando com as obviedades; se voce é NUTRICIONISTA no Brasil, voce aqui será....NUTRICIONISTA, voce será pago para elaborar os cardapios das refeicoes de uma escola, por exemplo. Se voce é “gente boa”, se o seu curriculo mostra um monte de atividades em que suas habilidades interpessoais são  destacadas, se voce tem aquele perfil do tipo “pau para toda obra”......infelizmente, o Canada pode te trazer surpresas desagradaveis. Tudo isso é importante, mas não tem peso decisivo.

Eles aqui não te conhecem, entao voce falar que tem um perfil “generalista”, infelizmente não conta muito, generalista por generalista tem um monte disponivel por aqui, e eles não vao contratar um desconhecido brasileiro para fazer o que uma outra pessoa com experiência canadense pode fazer.  Portanto, tenha em mente que voce tem que ter uma “expertise”, tem que ter uma habilidade definida, mesmo que nao sejas um “Zico” na sua área. Aliás, isso é importante, você não precisa ser um "ás" no assunto, não precisa ser "o melhor", mas tens que ter uma área de conhecimento bem definida.

É exatamente por isso que é muito comum vermos o "pessoal de TI" dominando o assunto "imigração pro Canadá" nos vários fóruns da Internet, eles têm a especificidade que é tão valorizada por aqui. Porém, isso é uma realidade em todas as áreas, não apenas em TI !

Por exemplo, se no Brasil a sua carreira é ligada a atividades que exigem forte capacidade de relacionamento interpessoal, contato com equipes, gerenciamento de pessoas, vendas, representacao comercial, etc; voce provavelmente terá dificuldades no começo aqui no Canadá. Por exemplo, um empregador pode ficar com o pé  atras para contratar um vendedor desconhecido, cujas habilidades interpessoais não podem ser facilmente avaliadas, correndo o risco de arruinar as vendas por uma abordagem errada com um cliente muçulmano. O cara pode fazer um comentario de cunho religioso que na cultura brasileira nada significa, mas pode ser um desastre na cultura árabe, e por ai vai. Enfim, isso não quer dizer que a pessoa não possa obter sucesso aqui, longe disso, mas tem que estar atento a problemas dessa natureza.

É fato que há um enorme preconceito com quem nunca trabalhou no Pais, é a tal “falta de experiência canadense” que tanto atrapalha quem chega aqui. Esse é o primeiro, principal e mais dificil obstáculo a superar: obter o primeiro emprego na sua área de trabalho. Uma vez obtido, a a sua empregabilidade tende a melhorar....muito.

Ao chegar aqui, voce manda um monte de CV`s para posicoes que pedem EXATAMENTE o que voce tem a oferecer, voce jura que “desta vez vai !”, mas o telefone.....nao toca. E isso vai minando sua autoconfianca, muito comum....mas.....agua mole em pedra dura....alguma hora alguem vai pensar “vou dar uma chance a esse cara, tenho um problemão para resolver, ele diz no CV que no Brasil fazia exatamente isso, vou pagar para ver. Se eu não gostar, eu mando embora depois de um mês”. E pronto, terá aparecido sua primeira oportunidade ! Certamente um emprego temporario, com salario baixo...é o famoso “test drive”.

Cada 100 CV`s enviados rendem umas 5 entrevistas, a estatistica na procura pelo primeiro emprego é mais ou menos essa.

CONHECIMENTO DO IDIOMA

Não vou me estender muito nisso, pois trata-se de algo óbvio: saber falar Inglês e BEM é fundamental.

Inclusive, é muito comum as empresas fazerem a primeira entrevista pelo telefone, mesmo que o escritório seja na rua em que voce mora !! Sim, isso é serio, eles não querem perder tempo mobilizando o gerente da área e o cara do RH para te receber pessoalmente, só para perceber com um minuto de conversa que você não fala inglês suficientemente bem. Então, primeiro eles te entrevistam pelo telefone (repito: mesmo que a empresa seja na mesma cidade !); e se você for aprovado, aí sim eles te chamam para a entrevista pessoal.

Em Quebec, falar inglês para arrumar um bom emprego TAMBÉM é fundamental, é ilusão achar que vai arrumar alguma coisa boa falando apenas Francês, vejo  muitos brasileiros cairem nessa conversa fiada de que “em Quebec, fala-se Francês, é isso o que importa...”...se iludem porque, para um adulto que fala Português, aprender Francês é  infinitamente mais fácil do que aprender  inglês, devido a similaridade entre os idiomas. E então, para não sair da sua "zona de conforto",  o inocente acha que "não precisa" aprender inglês......tolinho....é pedir para se enganar.......além do que, vai ficar eternamente refém do restrito mercado de trabalho em Quebec. Diga-se de passagem, é exatamente isso que o Talibã, a milicia fundamentalista que governa QC almeja: ter trabalhadores que não tenham condições de sair da província.
-->Em QC, o problema da baixa densidade populacional é agravado pela migração de profissionais qualificados para outras províncias, que fogem da imposição forçada do idioma Francês; então QC vêm  facilitando cada vez mais a imigração de brasileiros, aproveitando-se da facilidade que estes têm de aprender o idioma. Inclusive, há relato com data de Agosto de 2010, de uma pessoa que foi aprovada no "processo seletivo" (?) de QC sem passar pela tal "entrevista em Francês", que supostamente é um dos requisitos  para obtenção do visto de QC (o CSQ). Ela simplesmente alegou que estava nervosa (?), pediu para fazer a entrevista em Português mesmo (!!), assim foi feito e ela foi "aprovada" (?); entre outros relatos semelhantes.

Recebi um e-mail de um amigo pessoal dando "graças a Deus" porque, segundo ele, na Bombardier, uma das maiores fabricantes de aviões do mundo, "só se fala Francês".....e o cara não sabe falar inglês, então, para ele ("notícia verídica é aquela que me agrada"....), estava tudo "perfeito"...ele imigraria para Quebec visando um emprego especificamente nesta empresa.

Santa inocência, Batman !!! Como pode um sujeito em sã consciência achar que na Bombardier não se fala inglês ??!! Sem comentários !!! Dividi hotel em Montreal com chineses que passam vários meses por ano na cidade dando aulas (!!) de projetos de avião para técnicos da Bombardier...em que idioma vocês acham que eles dão as aulas ? Mandarim ? Ah, sei....Francês ?....

Resumindo, em QC vale a seguinte regra: se falas os dois idiomas fluentemente, perfeito. Se falas apenas Inglês, em geral consegues um bom emprego sem problemas, desde que você não tenha que lidar intensamente com atendimento público; mas se falas apenas Francês...... empregabilidade limitadíssima; a área de tecnologia, por exemplo, estará fora de suas possibilidades (IT ? Engenharia ? Em Francês ?.... ). A ressaltar, Montreal é uma belíssima cidade turística, mundialmente conhecida pelos seus maravilhosos restaurantes e variadas opções culturais (a cidade é o segundo maior pólo gastronômico da América do Norte); o imigrante que não fala inglês não terá condições de, por exemplo, arrumar um emprego no comércio em downtown, pois não terá como atender turistas do vizinho de baixo....(os turistas não vem de Paris....<rs>...)

Falar Espanhol pode te trazer um belíssimo diferencial positivo, eu fui eliminado na última etapa de dois processos seletivos exatamente por não falar; os caras ainda ficaram pensando.....pensando....eu forçei a barra, dizendo que poderia me virar no "portunhol", disse que já tinha feito viagens profissionais à Argentina e Espanha, etc, etc.....creio que chegaram a considerar a hipótese, mas na última hora, não deu. As empresas tinham clientes na América do Sul.

O PESO DA SUA FACULDADE NO BRASIL

Vamos supor que você tenha estudado na USP,  UNICAMP, UFSC , UFRJ, etc; ou seja, numa faculdade de peso....no Brasil. Ao chegar aqui, infelizmente voce percebe que isso não conta muito....sim, é verdade, eles aqui nao conhecem bem as Universidades brasileiras, entao o fator “fiz o curso na Federal !”, a principio, nao conta muito....

MAS...

Lembre-se que voce será chamado para uma entrevista, e aí será a sua chance de reverter o quadro ! Prepare um belo PORTFOLIO profissional para mostrar ao entrevistador, com exemplos que ressaltem seu conhecimento tecnico e experiencia profissional.

Vou dar um exemplo pessoal, ao chegar em Vancouver, eu fui chamado seguidas vezes para entrevistas em uma empresa que desenvolve uma atividade que não guarda forte relação com o que está escrito no meu CV. Eu nunca trabalhei ná área em que a empresa é especializada, mas eles tinham achado meu CV on-line em algum lugar e insistiam em me entrevistar. Como esperado, eu não fui muito bem nas entrevistas, até que lá pelas tantas eu mesmo perguntei a gerente de RH:

“Bom, porque voces tem insistido comigo ? O meu CV não mostra uma boa experiencia nessa área que voces querem....”

A resposta dela me surpreendeu:

“We trust your education...”

Eles tinham um engenheiro formado pela UFRJ no quadro de funcionarios, e estavam satisfeitissimos com o conhecimento demonstrado pelo individuo. Portanto, eu seria uma boa aquisição....acabou não dando “muito certo”, a certa altura eles desistiram de mim.

PROFISSÃO REGULAMENTADA

Muitas profissões sao ditas “regulamentadas”, sao profissões em que você precisa de autorização do Conselho Regional de sua profissão para exercê-la. Exemplos: Engenharia e toda a área médica.

Nesse caso, voce não pode simplesmente pedir o visto de imigrante em São Paulo achando que isso automaticamente te dá o direito de exercer sua profissão aqui...ERRADO !!! CUIDADO COM ISSO !!

O órgao de imigração canadense apenas cruza as informações da “lista de profissoes em demanda” com a sua profissão, se “bater”, eles te dão o visto, mas isto NÃO QUER DIZER que voce poderá chegar aqui e trabalhar direto na sua área, voce terá que pedir autorização ao Conselho Profissional local !

Nesse caso, voce tem que ir no site da instituição e ver a (provavelmente extensa...) lista de exigências que eles fazem. No caso da área medica, por exemplo, o candidato tem que passar em 3 provas, além de cumprir 4 anos de residência médica no Canadá, para só entao ter direito a se intitular “médico” por aqui.


CUIDADO: Fazer o "reconhecimento de diploma" (ver abaixo) é  APENAS UM DOS requisitos para obter a certificação profissional no Canada, é necessario MAS NÃO É suficiente.

PORÉM....dentro desse quadro pessimista, há algo bom: normalmente o profissional PODE trabalhar na sua área, desde que seja sob a supervisão de um outro profissional que tenha a certificação.

Em Engenharia, isso é  muito comum. Tradicionalmente (no Brasil ou em qualquer lugar do mundo), apenas o Gerente de Engenharia ou o “Head of the Department” é que assinam os projetos, são estes que colocam o “carimbo do CREA” no papel; os outros engenheiros que fazem parte da equipe, mesmo que tenham a certificacao profissional, não a usam, não precisa. Ou seja, o profissional pode trabalhar a vida inteira como engenheiro sem nunca ter sequer  passado na porta do Conselho Profissional. Lado negativo ? Obvio, o cara nunca vai poder ser promovido a Chefe do Departamento.

É   E-N-O-R-M-E   a quantidade de pessoas que saem daqui dizendo que “o Canada é  uma M...”, por não terem verificado essa questao A-N-T-E-S de imigrar, aí chegam aqui e dão chiliques, ficam P da vida porque não conseguem trabalhar nas suas áreas e vão dirigir táxis, varrer ruas, etc; acabam voltando para o Pais de origem.

De quem é a culpa ? Do governo do Canada ?

Havia um site mundialmente famoso chamado "not canada", contando experiencias frustradas de imigrantes que chegaram aqui e não conseguiram retomar a carreira profissional como esperavam. Dei uma "googleada" rápida agora (Agosto de 2010) e parece que o governo do Canadá conseguiu derrubar o site na justiça.


RECONHECIMENTO DE DIPLOMAS

Mesmo que sua profissão nao seja regulamentada, voce deve fazer o chamado “reconhecimento de diploma”, para fins de melhorar a sua empregabilidade.

Para isso, voce deve entrar em contato com uma das varias instituicoes canadenses que oferecem o servico. Eles vao exigir que a sua faculdade no Brasil os envie seu historico escolar (voce não pode mandar, tem que chegar em papel timbrado e selado direto da sua faculdade no Brasil) e voce deverá enviar cópia do seu diploma, tudo com traducao juramentada. Esta tradução, a princípio, deve ser realizada por um profissional canadense, filiado à associação de tradutores do Canadá. Porém, há relatos de brasileiros que, ao pedirem, conseguiram que as instituições Canadenses aceitassem as traduções juramentadas feitas no Brasil, por tradutores certificados no próprio País de origem. Ou seja, vale a pena questionar.

Aí o tal orgao vai emitir um documento oficial dizendo que “o conteudo do curso de NUTRICAO  que voce fez na  faculdade X no Brasil é equivalente ao conteudo do curso de NUTRICAO exigido pelo Conselho Federal de Nutricao do Canada”; ou seja, o possivel empregador vai ver que as materias que voce estudou na faculdade de NUTRICAO  no Brasil tem o mesmo conteudo educacional das materias de um curso de Nutricao oferecido por qualquer universidade Canadense.

ISSO E’ MUITO BOM !! Transmite confianca ao empregador ! Eu me lembro que, no quinto dia apos comecar a procurar emprego em Vancouver, fui chamado para a primeira entrevista. Assim que eu sentei com o gerente de engenharia e o chefe dele, o diretor, eu apresentei os meus documentos de equivalencia, emitidos pela “University of Toronto”, dizendo que o curso de engenharia que eu tinha feito no Brasil tem o mesmo conteudo do curso de Engenharia oferecido por uma Universidade Canadense (qualquer uma, nao especificamente a de Toronto, eu apenas usei o servico de reconhecimento de diplomas que a Universidade de Toronto oferece, ha’ varias outras instituicoes que oferecem este servico). Os caras gostaram na hora e a entrevista desenvolveu-se bem.

IMPORTANTE: este reconhecimento de diplomas NAO É suficiente para que o profissional exerça a profissão, ele é apenas UMA das etapas que vai ser certamente exigida pelo Conselho Profissional. Alem disso, os conselhos impõe OUTRAS condições para dar a certificação ao profissional; por exemplo, podem exigir que a pessoa faça provas, entrevistas técnicas, estágios, etc; cada profissional deve verificar as condições que o conselho da sua profissão exige.


 A OBTENÇÃO DO CREA CANADENSE - O TÍTULO DE "PROFESSIONAL ENGINEER"


A obtenção do título de “P.Eng.” em BC (eu diria no Canadá em geral) é uma tarefa trabalhosa, cu$to$a, mas não é difícil. Vou dividir em três partes:

1) Aceitação da sua experiência profissional

Você tem que ter no mínimo 4 anos de experiência de trabalho como engenheiro, sendo que 1 desses anos deve ter sido obtido necessariamente trabalhando no Canadá, sob a supervisão de um “P.Eng.”. Você então deverá escrever um resumo de no mínimo 10 e no máximo 25 páginas relatando em detalhe toda sua experiência; esse relatório deverá vir acompanhado de pelo menos 4 referências, duas delas necessariamente “P.Eng.”.

Vá fundo, use suas 25 páginas, conte absolutamente tudo o que você tiver feito de trabalho técnico na sua vida, nos mínimos detalhes; mas não encha linguiça, senão eles vão perceber e o tiro vai sair pela culatra. Capriche no inglês, se eles suspeitarem em algum momento que seu inglês não é bom, vão pedir comprovação de fluência e sapiência gramatical. Não tenha pressa, eles pedem no mínimo 1 ano de experiência profissional em solo canadense, mas quanto mais tempo você tiver trabalhado por aqui, mais conhecimento você terá adquirido e passará uma impressão mais positiva, a sua experiência em outro País não terá muito peso e poderá sempre levantar possíveis desconfianças.....eles querem que você tenha experiência aqui, com referências aqui do Canadá. Será importante você ter o P.Eng. quando for procurar o segundo emprego, portanto um ano antes de sair do seu primeiro emprego você deverá para mandar o resumo, antes disso não lhe será vantajoso. É bom lembrar que o título de P.Eng., provavelmente, lhe dará apenas uma condição de empregabilidade melhor, não será motivo para um aumento salarial imediato, supondo que você tenha arrumado seu primeiro emprego trabalhando como engenheiro (apesar de não poder até então usar o título).

2) Aceitação da sua qualificação acadêmica

As “APEG’s” Canadenses (“CREAs” provinciais) não tem convênio com nenhuma faculdade brasileira. Para aceitar sua qualificação, eles pedem:

- Original do histórico escolar e ementas das matérias do curso enviados direto pela sua Universidade; tem que chegar pra eles em envelope timbrado da Universidade, o envelope não pode ter passado pelas suas mãos.

- Cópia do seu diploma

- Traduções juramentadas dos documentos acima, peça ao tradutor para enviar diretamente para a APEGBC, sem passar pelas suas mãos (e economize no correio).

Então eles vão fazer o estudo da “equivalência do seu diploma”; se você seguiu o conselho do tópico anterior e já fez por outra instituição, aproveite e peça para a instituição enviar para a APEGBC também (nada pode passar pela suas mãos), isso ajuda; mas eles vão fazer a avaliação deles de qualquer jeito.

Se você tiver menos de  7 anos de formado, eles vão exigir que voce faça provas técnicas, o negócio é meio complicado pois eles impõe restrições ao uso de calculadoras, etc, etc.

Se tiver mais, eles a princípio vão te chamar para uma “entrevista técnica” com 3 engenheiros da sua área; é como se fosse uma defesa de projeto final ou tese de mestrado, voce diante de uma banca; esta etapa serve também para avaliação do seu conhecimento de inglês. Se você for aprovado, estarás dispensado de fazer provas. Caso contrário, eles vão mandar voce fazer provas nas matérias que eles acham que você está fraco, além de poderem mandar você de volta pra Cultura Inglesa.

Há casos em que eles dispensam não só das provas mas também da entrevista; aprovam direto.

3) Provas de Ética, Lei e Profissionalismo

Como mencionado acima, você tem que passar numa prova de lei e ética denominada “Professional Practice Exam” (PPE), essa não tem jeito, todos têm que fazer. São 100 questões de múltipla escolha e uma redação, mas é fácil, tem que ficar uns 3 dias com a cara enfiada em 2 livros base, mas feito isso, é tranquilo.

Você tem ainda que participar do seminário de “Lei e Ética”, uma alternativa é comprar os CD-ROMs com o material do curso, nesse caso você não precisará assistir o seminário.

Em todas as APEG’s o processo é bem parecido.

ENTREVISTAS NO CANADÁ – AS “SCREENING INTERVIEWS”

Há uma coisa muito ruim por aqui que não há no Brasil, sao as chamadas “screening interviews”. Acontece quando a empresa NÃO TEM a vaga de fato em aberto, disponivel, mas eles publicam anuncios pedindo candidatos, para ficarem de olho se “um dia” eles precisarem. Muitas empresas tem vagas “eternamente” abertas, que “nunca” são preenchidas, e voce fica pensando que eles não conseguiram ainda encontrar o candidato ideal. Bullshit. A vaga simplesmente não existe, mas o anuncio fica lá, no site da empresa.

Só que o candidato não sabe disso, e aí sai da entrevista cheio de auto confiança, achando que “amanhã eles me ligam, essa vaga é minha, eu fui muito bem !”

Aí  o telefona nunca toca, e o cara fica perdidinho pensando: “onde foi que eu errei ?? a entrevista foi tao longa e produtiva......”.

So’ que a vaga não existe, e na maioria das vezes a empresa não tem nem ideia de quando vai precisar de alguem – e isso não é  dito ao candidato.

CUIDADO. Isso é muito comum. Voce leu ai em cima quando eu falei da minha primeira entrevista, que eu consegui no quinto dia de procura de emprego ? Pois é....


PROJECT MANAGERS

Vale a pena falar um pouco sobre isso, especialmente tratando-se da imigração de brasileiros. É muito comum no Brasil um Engenheiro (ou Administrador, ou Economista, etc) ser contratado para fazer tarefas administrativas que qualquer um que tenha estudado até a quarta série faria - quero dizer, até a segunda. Se a empresa ainda “enfeitar o pavão”, dizendo pro incauto que ele é um “Project Manager” ou coisa parecida, aí é que o cara acredita mesmo.

Isso é muitíssimo comum em grandes empresas multinacionais, que contratam Engenheiros para estas funções administrativas primeiro porque há Engenheiros sobrando, e segundo porquê o sujeito tem um nível cultural/moral acima da média, trata-se provavelmente de pessoa idônea, certamente bilíngue, e aí a empresa se beneficia disso.

Foi exatamente isso que aconteceu no início da minha carreira, graças ao bilinguismo e por ter estudado numa universidade federal, eu não tive maiores dificuldades para arrumar empregos em conhecidas empresas multinacionais de grande porte. Porém, as propostas profissionais eram, invariavelmente, medíocres.

No Canadá, o trabalho não tem “grife”, ter trabalhado em grandes empresas como Exxon, Xerox ou ABB a princípio, infelizmente, não lhe traz nenhuma vantagem significativa – como parece acontecer no Brasil. O que importa de fato é a atividade que você desenvolvia na empresa (OK, meio óbvio né.....). Se você se encaixa na situação aqui descrita, uma boa alternativa é tentar uma transferência direta para a filial da multinacional aqui no Canadá, provavelmente eles terão aqui a posicão com o mesmo perfil funcional que têm no Brasil, e aí você estará em significativa vantagem competitiva, pois já serás  “de casa”.

Vamos a um caso real: um brasileiro formado em Análise de Sistemas pela melhor universidade do RS, 10 anos de experiência na mais conhecida e maior multinacional do mundo na área de informática, inglês espetacular, chega em Toronto e fica mais de 1 ano desempregado, batendo de porta em porta. Atividade que ele desempenhava na tal empresa no Brasil ? NEM ELE SABE !!! Uma hora ele diz que fazia "contatos com clientes", outra hora ele diz que "fazia a interface entre equipes"...(?), até que em uma outra ocasião ele disse que era um "gerente de projetos".

Polimorfismo ? Encapsulamento ? Façade ? Classes abstratas ? Primary keys ? DER ?....acho que eu entendo mais disso do que ele....bom, depois de mais de 1 ano desempregado, ele arrumou um "entry level" numa empresa da área de informática, fazendo uma atividade que, "pra variar", nem ele sabe definir direito; e não se trata de nenhum "garoto" recém formado.


Em suma, cuidado com isso !! Chegar aqui achando que esse tipo de experiência vale alguma coisa é pedir para ter (muita) dor de cabeca, os empregadores aqui querem especificidade e experiência. Não estou dizendo que é impossível o profissional encontrar algo por aqui, longe disso, mas é importante saber que, por aqui, Project Manager é PM MESMO !

Entenda-se por PM o sujeito que tenha gerenciado projetos de fato, projetos que tenham tido inicio, meio e fim, não adianta sair chamando qualquer coisa que tenha feito de "projeto" porque não cola, vai ficar a ver navios. O profissional deve ser capaz de apresentar seus projetos em um consistente portfolio.

A boa noticia: se é este o seu caso, "adapte" seu CV para que pelo menos tenha algo que "lembre" um Project Manager, e, acima de tudo, obtenha a certificação internacional PMI ! Ela é muito bem valorizada por aqui.

Portanto, se ao ler esta história a carapuça entrou,  tire a certificacao PMI, é  a porta pro sucesso !



PROCURANDO EMPREGO

É fundamental publicar o seu perfil completissimo no LINKEDIN, essa é a principal ferramenta de busca de empregos hoje em dia, este site de relacionamentos profissionais está  infestado de head hunters !

Alem disso, voce deve preencher a ficha completa nos sites Workopolis, Monster, Jobboom, Job Bank e Eluta, entre outros.

Outro fator importante é saber aproveitar a PRIMEIRA porta que se abre ! Lembre-se, o maior desafio do imigrante é vencer o PRECONCEITO que os empregadores tem com quem nunca trabalhou no Pais, então, voce NÃO PODE deixar passar a primeira boa oportunidade que aparecer. Se voce optou por uma cidade X qualquer, mas se passaram alguns meses sem que uma boa oportunidade tenha aparecido, esteja aberto para se mudar para outra cidade se aparecer uma boa oferta. Na pior das hipóteses, se você não gostar da cidade para onde tenha ido, depois de um ano você pede as contas e arruma um emprego em uma cidade que seja do seu agrado - mas já tendo a tão necessária "experiência canadense".

Vi algumas pessoas se "assentarem" em Vancouver como se tivessem concretado os pés no solo, e apesar de não terem arrumado boas ofertas de trabalho, se recusavam a sair de lá, pois "moro na melhor cidade do mundo....". Aí o cara arruma um emprego "meia boca" aqui, outro ali, meio que fora da área dele,  e a carreira nunca deslancha, o tempo passa e o cara não consegue atingir o padrão de vida que tinha no Brasil.

Conclusão ? Depois de uns 3 anos o sujeito fica de "saco cheio", pede as contas e volta pro Brasil, onde tinha um BOM emprego, ganhava mais, e ainda comia a comida da vovó....

NETWORKING

Prepare-se: esta é a palavra que você vai mais ouvir no Canadá, Networking. Há até uma famosíssima (e parcialmente verdadeira) frase que exprime de maneira clara a importância do networking:

"Canadense só contrata quem ele conhece"

Uma coisa é você mandar um CV para uma empresa, uma outra coisa MUITÍSSIMO diferente é um funcionário desta empresa entregar o mesmo CV nas mãos do cara do RH. A indicação pessoal tem muito peso, o fato de um funcionário te indicar na empresa em que ele trabalha conta muitos pontos, é um diferencial muito significativo.

Portanto, seja qual for a sua profissão, associe-se ao Conselho Profissional da sua provincia e participe de TODAS as reuniões, faça "business cards" em que constem suas qualificações básicas e dados de contato, como se fosse um mini CV, para distribuir nesses encontros. Por exemplo,  é muito mais importante participar de reuniões do conselho de sua profissão do que participar de reuniões de brasileiros, pois o fato das pessoas serem da mesma nacionalidade não lhe garante nada, a não ser que hajam brasileiros DA SUA PROFISSÃO nos encontros.

Assim que eu cheguei, me inscrevi em cursos profissionais e fazia perguntas inteligentes aos palestrantes, procurando mostrar conhecimento na minha área de trabalho. Na hora do "coffee break", sempre vinha alguem puxar conversa do tipo "Interessante sua pergunta, você trabalha em que empresa ?"

E eu:

"Na verdade, sou um Engenheiro imigrante recém chegado ao País e estou ainda à busca de uma oportunidade. Qual é seu nome ? Aqui está o meu cartão de contato (contendo um mini CV no verso), por favor me avise caso saiba de algo na sua empresa ou em qualquer outra".

Numa dessas, arrumei uma bela entrevista numa especializadíssima empresa de consultoria, na verdade foi mais um bate papo em que participaram o Presidente e diretores. Nesse caso, especificamente, eles foram claros de antemão, dizendo que não tinham uma vaga em aberto naquele momento, mas gostariam de me receber para um "café" e para me mostrar a empresa. Excelente.

COLD CALLS AND INFORMATIONAL INTERVIEWS

Você é um sujeito cara de pau ? Se não for, aprenda a ser, compre óleo de peroba, passe na cara e vá à luta. Eles aqui fazem os chamados "cold calls", em que você simplesmente telefona pro D-O-N-O da empresa em que quer trabalhar e pede para "bater um papo", é a tal "informational interview". Não adianta ligar pro "aspone" do chefão, o "manual canadense" diz que você tem que ligar pro Presidente da empresa mesmo.

É meio jogo de cena, o "manual" diz que você, educadamente, não deve pedir uma entrevista propriamente dita, mas deve deixar claro que quer apenas "se informar" sobre a empresa. Eu tentei algumas vezes, fui em geral bem recebido ao telefone, mas não me rendeu grandes coisas.

Porém, trata-se de prática bem tolerada na cultura canadense, algo que NÃO existe no Brasil.

Importante: os cold calls não funcionam com empresas estatais, creio que devido a alguma regulamentação ou no mínimo  a um forte código de ética, gerentes e diretores destas empresas NÃO recebem ligações de candidatos a empregos, a estrutura é montada para que você, necessariamente, passe por todos os "aspones" do RH....

 PROGRAMAS DE  “JOB SEARCH” – O “JOB MENTORING”

Nas provincias, há diversas “ONG’s” que oferecem programas de apoio profissional ao imigrante recém-chegado; estas instituições  recebem grana dos governos provinciais e de doações, ou seja, para o recém chegado, os programas são grátis. Para um imigrante com income zero, mais do que nunca vale a máxima “de graça, até injeção na testa”, então....

Uma das primeiras tarefas do imigrante deve ser  procurar uma destas instituições e se inscrever em um (ou mais) cursos de “job search”. Em BC, por exemplo, algumas instituições bem conhecidas são o ISS, o SUCCESS e o TRAINING INNOVATIONS, esta última reembolsa 2/3 das despesas que o imigrante tenha relativas a capacitação profissional, até um certo limite, acho que 500CAD. Se você quiser fazer um curso profissional qualquer que tenha custo, você paga, leva o recibo e eles te dão o reembolso de 2/3 em  cheque nominal enviado pelo correio, vale a pena !!

Eu participei de dois programas, ambos oferecidos pelo SUCCESS:

PRO-TECH

Na  minha turma tinha gente de todas as áreas, então não sei muito bem o que o nome do curso significa. São duas semanas (10 dias) ocupando a parte da manhã, em que o participante recebe informações sobre os seguintes assuntos, entre outros:

- a economia da província

- treinamento para aprender a redigir o CV no padrão canadense

- confecção de “business cards” contendo o mini CV para distribuição em encontros profissionais

- “Cold calls” e “informational interviews”

- dinâmica de grupo para a pessoa aprender a se soltar, ter o mínimo de desinibição para, por exemplo, saber abordar um desconhecido em um almoço profissional, saber como “levar” uma conversa, etc, etc (um desafio enorme para alguns orientais, excessivamente tímidos).

- eles abordam até questões como impostação de voz, modo de se sentar, etc; eles treinam e FILMAM simulados de entrevistas, depois você revê sua entrevista na sala de aula, onde todos dão palpites no que você pode melhorar, etc.

Resumindo: o foco do curso é “desinibir” o sujeito, é uma espécie de “welcome to Canada” profissional, é para “sacudir” o cara, passar informações básicas sobre “o que é o Canadá”, e por aí vai. É fato que  há muitos imigrantes “sem noção”, você conversa com uns caras que parece que eles entraram numa espaçonave, tomaram umas e outras e falaram pro piloto “me deixa no próximo planeta, por favor puxa o cordão do meu pára-quedas antes, já que eu vou estar "mamado" mesmo...”; enfim, o cara não sabe muito bem aonde foi amarrar sua égua, então esse tipo de curso serve para o sujeito “saber aonde ele se meteu”.....NESSE aspecto, o curso é bom, só que eles não vão fazer o trabalho de ligar para nenhuma empresa para você. Vão tentar te fazer menos tímido, vão te dar um “banho de ânimo”, mas, em termos de resultados práticos na busca do primeiro emprego, não espere grandes resultados....mas é bom SIM !

JOB MENTORING

Essa é a última “moda” em termos de programas de apoio a imigrantes, tanto é que tem gente “brigando” para ser o pai da criança, o SUCCESS bate no peito e diz que foram eles que criaram e os outros estão imitando, enquanto os outros dizem que foram eles que tiveram esta “brilhante” idéia....

Mas vamos com calma...

O negócio é o seguinte: como o nome diz, o programa se prontifica a te arrumar um MENTOR, que é uma pessoa EXATAMENTE da sua profissão, estabelecida no País já há algum tempo, plenamente coroada de sucesso profissional e que vai então te tutelar, te mostrar o caminho das pedras. O “pulo do gato” aqui é que você vai estar com um cara que é EXATAMENTE da sua profissão, e bem sucedido ! É aquele cara que você olha para ele e diz: “quando eu crescer eu vou querer ser igual a você !”

Ao que eu entenda, uma vez você estando com o seu tutor, não há uma padronização do que deve ser feito, cada mentor é livre para decidir como orientar o seu pupilo da forma que achar melhor. Faz sentido, afinal a vantagem deste tipo de programa é que os profissionais são livres para explorar as particularidades de cada profissão.

Primeira coisa que passou pela sua cabeça: “Oba, se eu “mandar bem”, o cara me dá um emprego na própria empresa em que ele trabalha !”...cuidado com isso, se você partir dessa premissa, você terá grandes chances de irritar o seu tutor e o cara “correr contigo”, muito provavelmente a última coisa que o cara vai querer é perder o tempo dele com gente que “quer aparecer”.  Isto dito, há relatos SIM de que isso tenha acontecido, porém em casos ultra excepcionais, longe de ser o usual...

Vamos ao meu caso particular: 4 sessões foram marcadas, com espaçamento de duas a três semanas entre cada. O grupo era composto por 3 engenheiros eletricistas, sendo um na verdade um Project Manager (PM mesmo, o cara estava correndo para acabar o curso de PMP). Ou seja, não havia “consulta particular”, mas eles mantém grupos pequenos.

O nosso mentor, um iraniano aquela altura empregado do governo de BC, mas com vários anos de Canadá nas costas, foi “curto e grosso” (e também exagerado, mas só a ponto de “passar seu recado”...<rs>): “esqueçam Internet e demais bobagens, aqui no Canadá ninguém arruma emprego pela Internet, ninguém vai contratá-los se vocês não forem indicados por um outro alguém conhecido...”..

“Mas eu mandei meu CV ontem para uma vaga que é a minha cara”, alguém dizia. E ele: “Esqueça, essa vaga não existe, ilusão de ótica, ninguém te dá emprego pela Internet...”.

Evidentemente, como nada no mundo substitui o bom senso, dava para perceber que o cara tava exagerando meio de propósito mesmo, para nos alertar a NÃO nos concentramos na procura pela Internet, e sim tentarmos “outros meios..”. ....mas...que "outros meios" são esses ? Simples:  telefonar para as empresas e tentar falar com pessoas importantes, ou ir pessoalmente.

“Mas como, se eu não conheço ninguém ?” disseram os 3 em uníssono.....

E aí é que veio o “pulo do gato” do cara, ele abriu um caderno de “business cards” mais grosso do que a Bíblia !! Dava a impressão de que o cara conhecia todos os engenheiros do Canadá !!!...e saiu mandando:

“Fulano, liga para esse cara, a empresa dele tem a ver com seu CV, FALA QUE FUI EU QUE MANDEI VOCÊ LIGAR PO**A !! Senão, você não vai passar nem pela secretária !”

“Mas como, eu nunca trabalhei contigo, o cara não vai perceber que é “forçação" de barra ? Se ele me perguntar daonde que eu te conheço, o que que eu digo” ?

“Diga apenas que EU é que estou te recomendando, inventa qualquer coisa, conta uma historinha qualquer, dá seu jeito, use sua criatividade, você não veio pra cá pra morrer de fome !”

Bom, e assim fomos os três, “sentando o dedo” no telefone e ligando pra “Deus e o mundo”.

Resultados ? Pífios....MAS.....vamos com calma, isso foi em Maio de 2009, auge da crise econômica, que arrasou o mercado de trabalho canadense SIM; não arrasou o sistema financeiro, mas o mercado de trabalho foi pro beleléu, não esqueçam da verdade suprema: o Canadá nada mais é do que um apêndice econômico do vizinho de baixo.... Segundo as palavras do mentor, sem dúvida um sujeito extremamente experiente e sensato, se nós tivéssemos chegado um ano antes, teriamos  todos arrumado emprego em menos de 3 meses, os CV’s eram suficientemente bons, mas.....bom, a palavra “se” não consta no dicionário de imigrantes recém chegados e desempregados....

FORA ISSO...ele dava excelentes dicas quanto a cursos de treinamento que podíamos fazer, modo de falar, como se comportar ao telefone, e o melhor, sempre abordando a especificidade da nossa profissão ! Por exemplo, ele falou uma coisa que eu já havia me tocado antes, mas ele reforçou: “Numa entrevista, esqueça qualquer simbolo religioso, crucifixos, turbantes, ou seja lá o que for. Vai que o dono da empresa é muçulmano e não vai muito com a cara de cristãos, e aí você faz o favor de aparecer com um cordão cujo crucifixo é maior que a estátua do Cristo Redentor ? “Dançou” na porta da recepção, antes da secretária te oferecer o café..”....

Resumindo: o programa vale a pena, mas o cara não vai te arrumar um emprego......


O ANJO DA GUARDA - AJUDA NA BUSCA PELO PRIMEIRO EMPREGO

Cuidado com aqueles ajudantes que te dizem "conselhos profissionais" (?) tão "importantes" (?) como "você tem que adaptar seu CV à vaga em questão", ou ainda "você tem que estudar a empresa antes de ir para a entrevista"...

Ajuda DE FATO aqui no Canadá vem APENAS daquelas pessoas que se prontificam a te indicar nas empresas, seja nas próprias empresas onde trabalham, seja te referenciando a ex-colegas de trabalho que estão em cargos importantes em outras empresas. Isso é que é ajuda, o resto é conversa para boi dormir..

O meu "anjo da guarda" aqui no Canadá tem nome e sobrenome e é de carne e osso, nunca o vi na vida, mas foi  o cara  que me ajudou. Trata-se de um Engenheiro Eletricista estabelecido em Calgary, os dados de contato dele me foram passados por um outro Engenheiro Eletricista que trabalhou com ele (e comigo) no Brasil.

Ao chegar aqui, eu mandei um e-mail para ele me apresentando:

"Oi Fulano, meu nome é André, sou seu colega de profissão, Engenheiro Eletricista, estou baseado em Vancouver. Trabalhei com o fulano de tal no Brasil, que trabalhou contigo e me deu seus dados de contato. Estou à procura de uma oportunidade, você conhece alguém que possa me ajudar ?". Ainda, evidentemente, passei a eles dados basicos sobre o meu CV, empresas onde eu tinha trabalhado, o que eu tinha feito, ressaltei que tinha Mestrado por uma universidade federal, enfim, fiz uma propaganda básica, a pessoa não iria (e com razão !) me indicar a alguém apenas pelo fato de eu ser brasileiro.

E esta pessoa, imediatamente respondeu:

"Em Vancouver, ligue para este Engenheiro Eletricista, "Sicrano de tal". Trabalhei com ele por vários anos aqui em Calgary, dividindo a mesa na mesma empresa, até que ele pediu as contas e foi para Vancouver, aonde fundou a própria empresa de Engenharia Elétrica, ele é o DONO da empresa. Não esqueça de falar que EU ESTOU TE INDICANDO, mencione o MEU NOME, NÃO ESQUEÇA DISSO".

Dito e feito, liguei pro cara, o dono da empresa. Ao falar que o nome de quem tinha me indicado, o tom de voz dele MUDOU NA HORA, passou a se mostrar MUITO MAIS receptivo; e imediatamente marcou uma entrevista. Duas semanas depois, eu estava com o tão sonhado "primeiro emprego na área" em mãos !!!

ISSO SIM É QUE É AJUDA !!!!

Porém, vamos com calma, sem exageros. A empresa, muito pequena, não tinha serviço a toda hora, e eu estava em "part time", longe de ser uma situação ideal. Ai´, eu que tinha espalhado meu CV por toda a Internet, recebi um telefonema de uma grande empresa baseada em Montreal,  pedindo entrevistas, ninguém tinha me indicado.

Os caras estavam com o "pé atrás", afinal de contas, eu não passava de um ilustre desconhecido, oriundo de um País onde só tem samba,  Carnaval e mulheres peladas, dizendo em um CV que eu fazia "exatamente" o que eles queriam. Na cabeça deles, passou..."hmmm...será que esse cara entende disso mesmo ?" Simples, façamos um "test drive" já. Mandaram a passagem aérea, pagaram o hotel, e tudo o mais por um período inicial de 3 semanas, pediram ainda minhas referências profissionais.

REFERÊNCIAS PROFISSIONAIS x INDICAÇÕES PROFISSIONAIS

Encontrei profissionais aqui que, saindo pela tangente, diziam não poder indicar pessoas com as quais "nunca tinham trabalhado"....

BULLSHIT.

Indicação profissional é uma coisa, REFERÊNCIA PROFISSIONAL é outra completamente diferente - e os empregadores aqui sabem disso muitíssimo bem.

Por exemplo, na tal empresa em Vancouver em que eu arrumei meu primeiro emprego por indicação, mesmo DEPOIS de me contratar, o dono me pediu as referências profissionais, e ligou DE FATO pro Brasil para tentar falar com meus ex-chefes, a indicação do colega de Calgary não "dispensou" esta parte, ele queria ainda assim falar com uma pessoa com quem eu de fato tivesse trabalhado antes. Não conseguiu - é mais fácil falar com o Obama do que com meus ex-chefes.. - mas aí ele já tinha me contratado, estava me conhecendo, pesou a indicação do colega de Calgary.

Na empresa em Montreal, eles também pediram minhas referências e, "pra variar", também não conseguiram falar com meus ex-chefes. Mas eu já estava no "test drive", eles estavam com tal necessidade de mão de obra qualificada que eles não podiam se "dar ao luxo" de ter que falar com meus ex-chefes "de qualquer jeito", me deram um crachá provisório, acesso limitadíssimo aos servidores da empresa, e "vamos ver qual é a desse cara".

Last but not least, fui aprovado no processo seletivo de uma grande empresa estatal  da area de  distribuicao de energia eletrica em Vancouver,  mas a gerente de RH foi claríssima comigo: só poderia me contratar se conseguisse falar com um dos meus ex-chefes no Brasil. Eles já tinham conseguido contato com um ex-colega de trabalho, mas isso não era suficiente, eles tinham que falar com um ex superior hierárquico de qualquer jeito, acabaram conseguindo. Creio que, por ser estatal, eles têm esta regra inflexível.


"YOU ARE OVER QUALIFIED"...

Outro tema comum e que desafia imigrantes, você passou vários anos se preparando para imigrar, tens Doutorado, falas três idiomas fluentemente, e aí chega aqui e as pessoas te dizem que você é super qualificado.

As opiniões são conflitantes, não há uma saída mágica para este problema, que de fato existe.

Em linhas gerais, vale a seguinte regra: se a posição não pede Mestrado, tire-o do CV. O empregador vai sempre ter receio de contratar um cara "over", que vai sair do emprego no mês seguinte, após ter colocado no CV e espalhado na Internet que já tem a tão necessária "canadian experience". Ou seja, o imigrante terá usado aquele primeiro emprego apenas como trampolim...

O meu anjo da guarda foi categórico, me recomendou manter o Mestrado no CV, pois "alguma hora vai aparecer alguém que vai valorizar isso". Dito e feito, na versão "Internet" do meu CV, eu mantive o Mestrado, apenas nas aplicações específicas eu omitia, quando não era pedido (99% dos casos).

Isso é importante, como eu já falei lá em cima, você não precisa ser "o tal" na sua área de conhecimento, se você e´ arquiteto mas nunca projetou um Maracanã, não tem problema nenhum, a sua limitada (porém efetiva) experiência será valorizada, sem dúvida.

PERGUNTAS PROFISSIONAIS FREQUENTES

1)    A idade é um problema ?


Pergunta de difícil resposta.....opiniões sempre conflitantes....minha opinião:  SIM, mas depende da sua experiência. Eu trabalhei com engenheiros cinquentões no Brasil que arrumam emprego aqui “ontem” ganhando o quanto pedirem e aonde quiserem, mas são pessoas com PhD em engenharia e inacreditável experiência técnica, são profissionais que projetaram o (enorme) sistema elétrico brasileiro. Eu diria que, a partir dos 40 anos, começa a ficar complicado, porém, mais uma vez, vamos com calma.....pese bem isso que eu estou falando.....ao que eu me lembre, pelo “Processo Federal”, se você tiver até 49 anos, você não perde pontos no quesito idade;  pelo "Processo de Quebec", ao que eu saiba, você começa a perder pontos a partir dos 35 anos de idade. Para mim, os dois processos estão exagerados, um para cada lado....um é “bomzinho” demais e o outro muito exigente (ainda mais tratando-se de QC, que vive perdendo gente para outras províncias devido ao problema de imposição do idioma).

Agora, abra seu olho, eu recebo e-mails quase todo dia de amigos que estão na faixa dos 38-40 anos e estão “pensando” se vêm pro Canadá ou não.....AÍ NÃO DÁ NÃO !! NÃO DÁ PARA FICAR “PENSANDO NA VIDA” se você já tá na porta dos 40 anos ! Nesse caso, simplesmente entre com o pedido de visto IMEDIATAMENTE e pense depois !!! O visto leva uns 3 anos para sair (!!!), se você ficar “pensando...pensando” até os 40 anos e aí então resolver pedir o visto, só vai recebê-lo quando estiver com uns 43 anos, e até você vir para cá........seus netos já nasceram....e o mercado de trabalho não vai “estender um tapete vermelho” para te receber.......

2)    O meu caso é exatamente esse que você critica aí no seu texto, eu tenho larga experiência profissional, falo muito bem o inglês, mas não tenho uma “expertise”, não tenho uma área de conhecimento específica, já fiz tanta coisa na vida, já trabalhei em tantas empresas,  que nem eu mesmo lembro de tudo.....você acha que eu vou me dar mal aí no Canadá ?

N-Ã-O, definitivamente não acho que você vá se dar mal, mas vai ter dificuldades, provavelmente não vais ser a primeira opção de empregadores. Se você não for em pessoa “dar a cara a tapa”, se enfiar em reuniões, encontros profissionais, se apresentar a pessoas, etc , etc., você terá muita dificuldade.  Nesse caso, mais do que nunca, você não vai poder ficar em casa tomando café e mandando CV’s achando que “ah, estou procurando emprego, ora bolas !”.....se você for daquele tipo que “esconde-se” atrás de um monitor de um computador e tem enorme dificuldade de chegar para um desconhecido e falar “Hi, how are you ? My name is Fulano de tal, I’d like to talk to you for a while, is it OK ?”....aí sim você provavelmente terá muitos problemas na sua busca pelo primeiro emprego; você tem que "se mexer" !

Pense nisso, TIMIDEZ NÃO TEM ESPAÇO POR AQUI NÃO !!!!

Outra coisa, entre pedir o visto e conseguí-lo, vão se passar uns 3 anos....tempo MAIS DO QUE SUFICIENTE para você redirecionar sua carreira, desenvolver uma habilidade. Se for preciso, peça as contas do emprego atual e arrisque esse tempo numa empresa “pior”, mas que vá te permitir desenvolver bem uma área de conhecimento melhor definida.

3)    Minha profissão é ___________(digite aqui a sua profissão). Você acha que eu vou me dar bem no Canadá ?

Essa não dá para responder, fica difícil.....OK, esqueçamos um pouco tudo o que eu falei aí em cima; procurar um emprego em um determinado lugar depende sempre basicamente dos mesmos fatores: sua experiência e a realidade do mercado de trabalho na sua profissão. Então, da mesma forma que você faria uma pesquisa de mercado para arrumar um novo emprego no Brasil, você terá que fazer a mesmíssima pesquisa para avaliar suas chances aqui.....ou no Afeganistão, ou no Cazaquistão.....

4)    A minha profissão não está na lista de demanda, mas eu consigo facilmente “dar um jeitinho” e fazer parecer que tenho larga experiência em uma das profissões disponíveis. Porém, esse jeitinho seria só para conseguir o visto mesmo, na realidade, eu vou praí para brigar por uma vaga na minha profissão de fato, que não está em demanda. Vou morrer de fome ?

N-Ã-O, faça sua própria pesquisa de mercado e venha, eu não entendo muito bem como eles gerenciam essa lista de profissões, acabei de saber que cortaram tudo que é ligado a TI (Agosto de 2010), mas eu continuo ouvindo gente falar que as empresas em que trabalham tem várias vagas em aberto ! Engenharia ? A mesma coisa ! Portanto, se este é o seu caso, pesquise e, se achar que tem vagas na sua área, VENHA !



CONCLUSÃO

Apesar de parecer negativista, esta página tem a clara intenção de abordar somente as dificuldades que o imigrante vai encontrar na busca pelo primeiro emprego, o objetivo é dar um "alerta" inicial.

Eu diria que é muito difícil, para não dizer impossível, o profissional que tenha o mínimo de qualificação não arrumar nada na sua área, isso não existe, no fim das contas o cara arruma alguma coisa.



(Andre, 21 de agosto de 2010)


Contato: andre.souza.can  at  gmail.com